Vereador reconhece “efeito perverso do turismo no mercado de arrendamento”
Manuel Salgado, o vereador com o pelouro do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa (CML), admite que o “boom turístico” sentido, nos últimos anos, na capital, apesar de “ser um fenómeno um pouco incontornável”, está a trazer alguns constrangimentos à qualidade de vida na cidade. Nomeadamente ao nível do mercado de arrendamento e no comércio. Salgado fala, por isso, na necessidade de serem “tomadas medidas” para corrigir efeitos perversos, como a concentração excessiva de visitantes numa área muito circunscrita do centro de Lisboa.
Falando na sessão de abertura dos III Encontros de Urbanismo, promovidos pelo Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), em Picoas, no final da tarde desta quinta-feira (29 de Janeiro), o autarca reconheceu que a recente vaga turística provocou “uma alteração do modo de vida, à qual nos temos que habituar”. Ainda assim, Manuel Salgado – que tem sido alvo de muitas críticas pelo facto de os serviços por si tutelados estarem a dar luz verde à construção de dezenas de unidades hoteleiras no coração de Lisboa – confessou “preocupação com este modelo”.
“Os alojamentos low-cost e os fenómenos como os do Airbnb têm um efeito muito perverso no mercado de arrendamento. Da mesma forma que também acabam por ter um grande impacto no comércio”, afirmou Salgado, que tentava, de alguma forma, responder às fortes críticas à “turistificação da Baixa da cidade” feitas por um dos oradores no encontro, Jorge Figueira, docente da Universidade de Coimbra e também residente na baixa pombalina. Salientando não ser contra o turismo, Figueira foi especialmente corrosivo com o que considerou ser o processo em curso de “instalação de uma cultura low-cost” numa área da cidade a sofrer de “um processo de despoetização radical”.
Ensaiando uma réplica a tais reparos aos excessos do turismo – que não foram seguidos pelos restantes oradores, entre os quais estava o arquitecto Manuel Aires Mateus -, Manuel Salgado considerou que “este é um fenómeno um pouco incontornável”. Mas que terá que ver corrigidos alguns aspectos, consentiu. “Por ano, recebemos 3,5 milhões de turistas e, só no ano passado, o Castelo de São Jorge teve 1,2 milhões de visitas. O drama é que isto está tudo concentrado numa área muito definida da cidade, no centro. É uma tendência que é difícil contrariar, mas há que tomar medidas para as pessoas passarem também a frequentar outras áreas da Lisboa”, afirmou.