Que as reuniões de câmara e as sessões da assembleia municipal – por muito importantes que sejam os assuntos lá discutidos – se podem revelar, muitas vezes, um bocado aborrecidas não constitui surpresa para ninguém. As maratonas de retórica mais ou menos fundamentada, mais ou menos pertinente, mais ou menos pomposa, são assim mesmo, um elemento integral e inalianável da democracia. Nem tudo pode ser excitação, como é óbvio. Por isso mesmo, não é raro ver gente a evidenciar sinais claros de fastio ou mesmo a bocejar. Tanto entre os membros dos referidos órgãos, como entre a assistência.
Tal modorra acaba mesmo por se revelar contagiosa – à imagem do que sucede frequentemente com os bocejos. Mas não deixa de causar espanto que alguns percam as inibições e desatem a dormir em plena reunião pública do executivo municipal – realizadas sempre nas últimas quartas-feiras de cada mês e transmitidas online pelo site da Câmara Municipal de Lisboa. Foi o que sucedeu na reunião de ontem à tarde. Bem, aconteceu e logo no início de uma reunião que, por sinal, se viria a revelar longa.
Fernando Seara (PSD) chegou ao seu lugar, mas a soneca continuava incólume.
Sentado no lado direito da sala, junto da bancada ocupada pelos vereadores da oposição, um homem deixou-se enlevar por um sono profundo, ainda durante as primeiras intervenções destinadas ao período de antes da ordem do dia. Usava da palavra o vereador do PCP Carlos Moura, questionando o exectivo sobre diversos assuntos relacionados com a gestão municipal. O tempo passava, os assuntos mudavam, mas ele continuava ferrado. Tanto que, a dada altura, quem assegurava a transmissão vídeo achou por bem desviar ligeiramente o foco. E tirar o homem do enquadramento. Até que ele deu sinais de querer recuperar a vitalidade.
A realização decide, por momentos, tirar de cena o involuntário (e passivo) protagonista.
O Corvo, que assistia à reunião pela emissão online, ficou curioso e quis saber quem seria aquela pessoa com uma cadeira de intervalo em relação a António Prôa (PSD). Um vereador? Afinal, estava sentado na zona onde habitualmente se sentam os do PSD. Como, dos três eleitos pelo partido, apenas Teresa Leal Coelho não estava presente, ligámos ao gabinete dos vereadores do PSD para saber se seria alguém em sua substituição. Do gabinete disseram nada saber sobre isso, até porque a vereadora não indicara ninguém em sua substituição. Seria um funcionário do município? Fica a dúvida, então.
De volta à (in)acção. O período antes da ordem do dia pode ser uma seca.
Onde é que íamos mesmo na ordem de trabalhos?
Texto: Samuel Alemão