Serpente à solta assusta moradores e comerciantes de Telheiras
Ninguém neste bairro do Lumiar sai à rua sem antes olhar para todos os lados. Uma cobra venenosa avistada pelo menos duas vezes é o motivo para tantas cautelas. A PSP pede atenção redobrada e, juntamente com protecção civil, técnicos do Zoo de Lisboa e do Instituto da Conservação da Natureza tentam há quase um mês capturar o réptil, usando ratinhos como isco.
Há pelo menos três semanas que boa parte dos moradores e dos comerciantes de Telheiras não se aproxima dos espaços verdes deste bairro da freguesia do Lumiar, em Lisboa. Não é por vontade própria, mas por recomendação das autoridades. Teme-se que uma serpente venenosa possa estar à solta e isso é o suficiente para ninguém querer arriscar.
PSP, protecção civil da câmara municipal, Junta de freguesia do Lumiar, técnicos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e tratadores do Jardim Zoológico de Lisboa estão todos juntos neste esforço para capturar a cobra. As armadilhas, colocadas principalmente nas redondezas das escolas e das creches, são fiscalizadas todos os dias, os agentes fazem visitas e alertas regulares, mas até agora nada.
Nem a polícia, nem a protecção civil avistaram qualquer coisa parecida com uma serpente, conta Hugo Abreu, subcomissário do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS). Por enquanto, explica o porta-voz do COMETLIS, o incidente tem como base um único relato feito há algumas semanas e, por isso, nem sequer há a confirmação de que se esteja perante uma serpente venenosa. O Corvo, contudo, teve acesso a uma circular de uma empresa de condomínios, dando conta de um novo avistamento na passada segunda-feira.
É o quanto basta para deixar residentes e comerciantes bastante inquietos. Paula Silva vive na Rua Professor Manuel Viegas Guerreiro e só soube deste caso há dois dias, quando uma vizinha lhe assegurou ter visto uma cobra junto à porta seu prédio. Desde então, não se sente tranquila no bairro. Já não estaciona o carro no lugar do costume, sai e entra do prédio a correr e com os olhos fixos no chão e até levar o lixo à rua tornou-se agora numa tarefa complicada. “Seria muito bom que fossem tomadas previdências visto que as autoridades já têm conhecimento do assunto e sabem da sua gravidade. Não quero viver os próximos meses a olhar por cima do ombro com medo que a serpente me apareça pela frente”, desabafa a bibliotecária de 48 anos.
Marta Gomes trabalha numa sociedade de advogados na Rua Professor Moisés Amzalak, no centro de Telheiras e, “felizmente”, não avistou a cobra. A presença do réptil, no entanto, pressente-se por todo o lado. Gaiolas camufladas com ratinhos vivos a servirem de isco junto às árvores chegaram há pouco mais de uma semana próximo do seu local de trabalho. Por agora, mais nada há a fazer: “As indicações que recebemos da PSP foi para nos afastarmos dos espaços com muita vegetação e é o que temos feito.”

Nessa mesma rua está a Academia dos Príncipes, uma creche para crianças dos três meses aos seis anos. Os educadores e os auxiliares também já foram visitados pela PSP, mas não houve necessidade de implementar nenhum plano de emergência. “As nossas instalações estão bem protegidas”, justifica Inês Nascimento, auxiliar de educação. O muro que veda a creche e a relva sintética colocada na zona do pátio são medidas que a PSP concluiu serem seguras para não ter de privar as crianças de brincar ao ar livre: “Estar especialmente atento, sobretudo nas horas de recreio, é tudo o que podemos fazer.”
Cautela é a atitude que moradores e comerciantes passaram a ter sempre que saem à rua. Ana Jerónimo, da padaria Espigasol, na Rua Professor Dias Amado, anda com “pezinhos de lã” de cada vez que sai da loja. Não viu “ o bicho”, nem quer ver “Deus me livre”, mas não consegue esquecer que “o bicho” anda à solta no bairro: “Todos os dias entram aqui clientes a falar sobre isso.”
Estão assustados, mas a proprietária da padaria está convencida de que, se os moradores e as autoridades tomarem “todas as precauções”, é possível evitar o pior. É o que defende também o presidente da junta do Lumiar, até porque a ameaça estará geograficamente circunscrita, acredita Pedro Alves.
“Até agora houve um único avistamento e o eventual perigo não está em zonas de espaço público evidentes como ruas e estradas”, explica o autarca, adiantando ainda que os funcionários da junta também têm evitado trabalhar nos espaços verdes onde vegetação é mais densa: “Temos mantido a população informada ao mesmo tempo que procuramos evitar o alarme social”.