O desafio é grande. Criar um bosque no Estádio Universitário de Lisboa, onde as árvores de médio porte possam criar um ecossistema, num local onde a atividade desportiva assume particular relevância. “Já não sobra muito espaço, mas estamos apostados em criar uma zona verde relevante”, afirma João Branco, técnico superior do Estádio Universitário, que em parceria com a Quercus – Associação Nacional de Conservação de Natureza – pretende requalificar esta área da cidade.
Por isso, este fim-de-semana, alguns voluntários participaram na reflorestação de aproximadamente um hectare do recinto universitário com espécies de árvores autóctones, numa acção integrada no projeto Criar Bosques, da associação ambientalista. Esta é a segunda intervenção neste espaço universitário.
A primeira foi em Março do ano passado, tendo, na altura, sido plantados cerca de 600 exemplares de espécies como o medronheiro, o sobreiro, a azinheira ou o carvalho. As plantas têm, geralmente, um a dois anos e cerca de 30 centímetros de altura, com origem num viveiro florestal no Sabugal, gerido pelo Instituto da Conservação de Natureza e da Biodiversidade (ICNB). O projeto Criar Bosques envolve também a Autoridade Florestal Nacional, com os seus viveiros em Amarante e Alcácer do Sal.
“Esta intervenção é única num espaço urbano”, explica a O Corvo o elemento da Quercus responsável pelo projeto, Paulo Monteiro: “As nossas ações são fora destes perímetros, em terrenos baldios ou do Estado. Estamos a trabalhar na serra do Alvão, da Malcata, da Estrela ou Montejunto”. Para o dirigente da associação ambientalista, o desafio lançado pelos responsáveis do Estádio Universitário de Lisboa funcionou como um estímulo, que a organização não podia recusar.
Apenas o início do que se pretende venha a ser uma nova mancha arbórea em Lisboa.
“Esta é uma fórmula de trazer as árvores às pessoas. No futuro, com o crescimento das espécies, vamos colocar placas de identificação, mas, para já, temos que assegurar a manutenção das espécies”, diz Paulo Monteiro. Geralmente, a taxa de sobrevivência é de 70 por cento, pelo que é necessário acompanhar a evolução da planta e efetuar a sua reposição em caso de necessidade.
Um dos aspectos interessantes é o de algumas espécies arbóreas, com as suas bagas, provocarem o aparecimento de um maior número de pássaros, aumentando desta forma a biodiversidade numa zona de cidade entalada entre a 2ª Circular e o Hospital de Santa Maria.
“Em Portugal, grande parte da floresta natural desapareceu ou está muito alterada, sendo já raras algumas das nossas árvores autóctones. Para tal, tem contribuído a adopção de modelos silvícolas baseados na simplificação dos ecossistemas florestais, reduzindo-os a meros conjuntos de árvores da mesma espécie alinhadas, grande parte das vezes exóticas e de rápido crescimento”, considera a associação ambientalista, autora do projeto Criar Bosques – através do qual foram selecionadas 44 espécies arbóreas e arbustos autóctones, alguns dos quais ameaçados de extinção pelo avanço do eucalipto na paisagem florestal.
Entre as espécies escolhidas, destacam-se a zêlha (Acer monspessulanum), o vidoeiro (Betula celtibérica), o buxo (Buxus sempervirens), o medronheiro (Arbutos unedo), o castanheiro (Castanea sativa), o pilriteiro (Crataegus monogyna), o freixo (Fraxinus augustifolia), o jasmineiro-do-monte (Jasminum fruticans), a murta (Myrtus communis), o carvalho-de-monchique (Quercus canariensis), o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), o carvalho-alvarinho (Quercus robur) ou o sabugueiro (Ambucus nigra).
Texto e fotografias: Mário de Carvalho