Bastaram menos de 48 horas após a inauguração das novas faixas rodoviárias da avenida Ribeira das Naus, entre o Terreiro do Paço e o Cais Sodré, para perceber que alguma coisa não estava bem. A passagem destinada apenas a viaturas ligeiras, cedo começou a demonstrar deficiências na arrumação dos cubos de granito. As irregularidades e as pedras soltas no pavimento são visíveis, num “enquadramento paisagístico” ainda inacabado, problema que alguns têm a esperança de ver resolvido até às eleições autárquicas.
Juntamente com esta brecha no pavimento da avenida Ribeira das Naus, inaugurada a 23 de Março na presença António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e do chefe do Estado Maior da Armada, José Saldanha Lopes, a cerimónia ficou assinalada pela questão de saber-se para quando o arranque da segunda fase da obra, orçada em cerca de dez milhões euros, designada por “zona terra”. Neste ponto, nenhum dos principais intervenientes na cerimónia inaugural se chegou à frente.
Mesmo o arquiteto Manuel Salgado, vereador com o pelouro do Urbanismo e vice-presidente de autarquia, não se comprometeu com prazos. “Falta o ajardinamento e a abertura de toda a parada do Estado-Maior da Armada para podermos pôr a descoberto a antiga doca seca e podermos fazer todo um conjunto de intervenções com colaboração com a Marinha, que valorizarão todo este espaço”, reconheceu o presidente da autarquia António Costa.
Alguns peões que circulavam no passeio da Ribeira das Naus, junto ao Tejo, no dia da visita do “O Corvo” ao local, acalentaram a esperança das eleições autárquicas, a 29 de Setembro, poderem apressar a conclusão da obra, que passa pela reposição da antiga Doca da Caldeirinha e a construção de um jardim que deverá “permitir a estadia, o repouso e fruição de vistas sobre o rio”. “Isto tal como está é uma vergonha. Temos um passeio bonito e ao lado um descampado rodeado de arame”, desabafou António Pereiro, um comerciante no Cais do Sodré que reside no Barreiro.
O percurso pedonal junto ao rio entre o Terreiro de Paço e o Cais do Sodré tem particularidades interessantes. Uma parte tem uma escadaria de pedra até ao plano de água, que parece pouco funcional e até perigosa. Vejamos: existem três avisos de perigo para as pessoas que ousem descer as escadarias até ao rio. Depois, alguém se esqueceu da existência de uma pequena planta da família das algas, verde e viscosa, que, quando aparece, cria um tapete escorregadio ao longo dos degraus à beira da água. No dia da nossa visita, trabalhadores da autarquia limpavam exactamente a pedra junto ao plano de água.
Outra originalidade: os sinais de perigo com bóias de salvação e número de telefone para alerta em caso de acidente. Apesar da indicação de que é proibido nadar, o aviso só se encontra junto à bóia de salvação que equipa o passeio numa de zona de intenso tráfego marítimo, entalada entre os cais de embarque das carreiras fluviais para o Barreiro e para a Trafaria.
No local da Ribeira das Naus funcionava um estaleiro naval criado em 1498 pelo rei D.Manuel, vocacionado para responder às encomendas do Estado, tendo sido um importante local de produção de navios para as armadas da Índia.
(notícia corrigida às 23h10 de 17 de Junho)
Texto e fotografia: Mário de Carvalho