O mundo da banda desenhada pode ser, para muita gente, uma brincadeira, coisa de miúdos. Mas para outros tantos foi e continuará a ser uma forma de expressão, mais que relevante, definidora de uma identidade, de uma visão. De certa forma, uma espécie de elo entre distintas maneiras de ler o mundo, como o cinema, a pintura, a fotografia, as artes plásticas, a música, a arquitectura e o design. Por isso, ganha especial relevo quando se escreve em letra maiúscula. A Mundo da Banda Desenhada (MDB) foi uma loja – na fase final da sua existência, repatizada como Op -, especializada na importação de livros de todas essas áreas, existente no número 49 das Escadinhas do Duque, entre 1977 e 1987. Além de ser ponto de venda de revistas de culto como a “Face” e a “Interview” e fanzines piratas de autores nacionais, assumiu-se também como local de encontro de uma comunidade, numa Lisboa então ainda bem longe de ser soprada pelos ventos do cosmopolitismo. O núcleo duro ligado à loja chegou a lançar a publicação “Leitmotiv”, uma edição de autor e com um número único. De hoje até sábado, evoca-se essa memória, com uma festa, com a reunião dos que viveram esses tempos pioneiros.
Bairro Abaixo é o nome da iniciativa, que junta a loja de Paula Ferreira e a Livraria XYZ, de Pedro Guimarães e situada na Rua Oliveira ao Carmo 81, nesta celebração comunitária. “Um inventário. Marcas afectivas, uma mostra de trabalhos e esboços produzidos nas últimas quatro décadas por alguns dos autores que, mais cedo ou mais tarde, ocuparam, habitaram ou simplesmente atravessaram o Bairro Abaixo – A Oitava Colina. Inspirar e ocupar as ruas no BAIRRO ABAIXO. O quarteirão que fica entre o Carmo e a Trindade, o Bairro Alto e o Rossio”, lê-se no programa de intenções publicado por Paula. A iniciativa tem lugar hoje, entre as 19h e as 23h, e amanhã e sábado, entre as 17h e as 20h. Nestes dias, pretende-se “assumir um formato mais próximo da galeria e assim estabelecer correspondências, que vão dos anos 70 até amanhã”.
Texto: Samuel Alemão