O cenário é desolador. Uma pernada de grandes dimensões de uma árvore jaz sobre uma decadente área do espaço público, em Santa Catarina, freguesia da Misericórdia, há quase dois meses, inviabilizando o uso da zona de descanso – que apresenta cadeiras e mesas danificadas e com frequência está repleta de lixo. A parte de uma árvore situada junto ao número 31 da Calçada de Salvador Correia de Sá, na intersecção com o Largo São João Nepomuceno, caiu no final da tarde de 8 de Maio, por causas desconhecidas. Talvez tenha sido uma rajada de vento mais forte, conjugada com a fragilidade estrutural daquela pernada, aventam os moradores da zona, que desesperam para que as entidades competentes façam o que deve ser feito. E temem que alguém lhe pegue fogo, sobretudo agora que a madeira se apresenta ressequida.
O que até já poderia ter acontecido, pois a área em redor constituiu-se como cenário das recentes celebrações de Santo António. Foram ali montadas estruturas para os comes e bebes, assadores incluídos, por parte da Junta de Freguesia da Misericórdia – um dos seus núcleos, aliás, fica mesmo em frente, na antiga sede da extinta Junta de Freguesia de São Paulo. Mas nenhum funcionário mexeu na ramagem. “Acho muito mal a árvore estar neste estado. Qualquer miúdo passa aí e pode atear um fogo”, diz a moradora Maria Alice Santos, queixando-se de os cantoneiros da junta “passarem, varrerem o lixo à volta e não fazerem nada para acabar com isto”. Quando o Corvo visitou o local pela primeira vez, há aproximadamente duas semanas, os detritos acumulados junto da área de recreio e da pernada ali caída eram muitos. Os mesmo foram removidos, entretanto, sem que se tivesse tocado no mono vegetal.
“Já faz parte da paisagem”, ironiza, por isso, Ana Maria Fernandes, outra das moradoras, que vive num prédio situado mesmo ao lado da árvore em causa. Ana considera que tal situação é não só estranha como perigosa. E não apenas pela possibilidade de alguém se lembrar de foguear os despojos da árvore, mas também porque o lugar serve de ponto de concentração de fumadores. A moradora diz que, poucos dias após a ocorrência, e como ninguém fazia nada, o seu marido decidiu ligar para o Departamento de Higiene e Resíduos Sólidos da Câmara Municipal de Lisboa. “Disseram que iam resolver, mas até hoje….”, afirma, lamentando também a ausência de resposta por parte da junta. “Pensámos em partir a pernada, mas ela é muito grossa”, confessa.
O Corvo ligou ontem, ao final da tarde, para os serviços da Junta de Freguesia da Misericórdia, para tentar saber a razão da inacção. Uma funcionária anotou a ocorrência e disse que a iria transmitir aos membros do executivo daquele órgão autárquico.
Texto: Samuel Alemão Fotografia: Luísa Ferreira