Perdidos no tempo?
Uma fotografia pode servir como exemplo. São bem conhecidas as dificuldades que o estado português sempre teve em administrar o que é seu. Ao ponto de serem frequentes os relatos de esquecimentos vários, negligência grosseira e abandono continuado das propriedades que, afinal, a todos pertencem. Um cenário recorrente, pelo menos, nas duas últimas décadas, desde que se começaram a encerrar e a centralizar serviços em nome da eficácia administrativa e das contas. Fechadas as portas de uma qualquer dependência da administração central, os edifícios rapidamente se convertem na mera evidência física de um registo predial. Uma espécie de activo inactivo. Até que novo imperativo de redução do défice dite a sua eventual venda.
Veja-se o caso das instalações da tesouraria das Finanças que outrora funcionava no 113 B da Rua Damasceno Monteiro, no bairro dos Anjos, agora pertencente à freguesia de Arroios. Foi ali que funcionou, até 31 de Dezembro de 1994, o 1º Serviço de Finanças de Lisboa. Dois dias depois, mudava-se para o número 11 da Avenida General Roçadas, na zona de Sapadores, na freguesia da Penha de França. A informação foi colocada em folhas A4 impressas, na altura, por algum funcionário. Entretanto, passaram duas décadas. O edifício mantém-se fechado, sem uso aparente. No interior, vêem-se caixas de cartão e pouco mais. Este aviso (no fotografia) lá continua, visível nas traseiras, viradas para a Rua Maria da Fonte, ali mesmo ao lado do Mercado do Forno do Tijolo. As pessoas, ao longo de um contínuo quotidiano de quase vinte anos, foram passando. A folha ficou lá.