Os impactos negativos negativos em termos arquitectónicos, ambientais, estéticos e a nível de trânsito que terá a construção de um estacionamento subterrâneo no Jardim do Príncipe Real foram, na tarde desta quinta-feira, divulgados por diversos especialistas numa conferência de imprensa realizada no centro do próprio jardim, convocada pela Plataforma Contra a Construção do Parque.
Tal projecto, a concretizar-se, será “um erro que se vai pagar muito caro”, sublinhou José Calisto, dos Amigos do Príncipe Real, uma das associações que integram a Plataforma, da qual fazem parte ainda o Fórum Cidadania Lisboa, a Liga dos Amigos do Jardim Botânico, a Associação Lisboa Verde e Árvores de Portugal.
Margarida Rua, antiga directora do Museu da Água, falou na “impossível convivência” de semelhante projecto com o Reservatório da Patriarcal e o conjunto de galerias que dela emanam, prejudicando ou até inviabilizando a candidatura do Aqueduto das Águas Livres a património mundial.
Segundo a última versão do projecto, o estacionamento terá quatro andares e 12 metros de altura, e ficará debaixo não do jardim propriamente dito, mas do passeio em volta. No entanto, as consequências serão igualmente nefastas para o coberto vegetal.
“Será necessário construir uma cofragem que irá alterar substancialmente algo consolidado, que é o subsolo de um jardim antigo. Não se pode andar a mexer debaixo dum jardim com mais de cem anos. A drenagem vai ser muito alterada, as árvores começam a secar e a seguir vêm os serviços camarários e dizem que é preciso abatê-las”, sublinhou Margarida Cancela de Abreu, arquitecta paisagista.
Carlos Gaivoto, especialista em transportes, considerou o projecto de construção do estacionamento subterrâneo no Príncipe Real como “um exemplo muito concreto daquilo que não se deve fazer” no centro histórico de uma cidade.
O comunicado distribuído à comunicação social chama a atenção para o “brutal aumento de tráfego viário no eixo Chiado-Rato” decorrente das alterações ao trânsito na Avenida da Liberdade e da “recente explosão do comércio” na zona, situação que se irá agravar muito se o projecto do parque de estacionamento subterrâneo avançar.
O facto de os promotores do projecto terem falado em que 90 dos lugares do projectado estacionamento serão destinados a moradores na zona não convence Jorge Teixeira Pinto, dos Amigos do Príncipe Real. “Outros tantos lugares serão retirados à superfície, com as entradas e saídas para o parque”.
O projecto que tanta celeuma está a causar já sofreu diversas alterações desde que foi pela primeira vez apresentado à Direcção-Geral do Património Cultura (DGPC), na esperança de que este organismo venha a dar-lhe luz verde. Mas tal ainda não aconteceu, estando agora a DGPC a aguardar os resultados de um estudo hidro-geológico encomendado à empresa Geocontrol.
“A Direcção-Geral do Património Cultural tem todos os instrumentos legais para dizer não a este projecto. Estamos a contar que haja bom-senso”, sublinhou José Calisto, dos Amigos do Príncipe Real.
* Texto corrigido às 23h35 de 17 de Julho.
Texto: Isabel Braga