É verdade que se tratou de um mero acaso, pois coisas destas sucedem o tempo todo nas ruas da cidade. Mas lá que está carregado de simbolismo, isso é inescapável. O final de tarde deste sábado tornou-se assaz complicado para a circulação automóvel e de peões na ligação entre a Praça da Figueira e o Rossio, quando dois veículos pesados de transporte de turistas tocaram entre si na ponta final da Rua da Betesga, na passadeira que dá acesso à Rua Augusta, e aí se imobilizaram. Um daqueles autocarros de dois pisos e sem tejadilho, que asseguram circuitos pelos locais mais emblemáticos de Lisboa, e um mais extravagante e novo veículo anfíbio que por aí anda bateram ao de leve entre si, ao desfazer da curva da Betesga que marca a entrada na Praça Dom Pedro IV.
Foi o suficiente para causar a confusão naquele ponto da Baixa, já sempre apinhado de gente – sobretudo de turistas. Entre a notória dificuldade acrescentada à circulação automóvel e pedonal, muitos foram os que ficaram a observar as diligências da polícia de trânsito, a opinar sobre o que teria sucedido e a quem se poderiam assacar eventuais responsabilidades, mas também a tirar fotos. Num momento em que são cada vez mais as vozes a questionarem a dimensão que o negócio turístico está a atingir em Lisboa, e as suas possíveis consequências nos mais diversos aspectos da dinâmica urbana, não é sem uma certa ironia que se aprecia uma cena destas.
Texto: Samuel Alemão