Nos 50 anos da Marítima de Xabregas
Inaugurada em 1966, a “Marítima de Xabregas” é um dos restaurantes preferidos dos lisboetas que gostam de comida tradicional portuguesa e de almoços sem pressa. O Corvo foi até à zona oriental da capital conhecer um pouco da história do que começou por ser uma casa de pasto. Quando surgiu, dava de comer aos que trabalhavam na actividade portuária e nas fábricas da zona. Hoje, é uma referência gastronómica da cidade.
No mesmo ano em que Lisboa ganhava, finalmente, uma ponte sobre o Tejo, um pouco mais a leste abria uma enorme casa de pasto, um tipo de estabelecimento popular especializado em servir vinho a copo e petiscos vários.
A Marítima de Xabregas encaixava na perfeição naquela Lisboa Oriental que os Filipes espanhóis desenvolveram a partir do final do século XVI e da qual restam palácios e quintas. A proximidade do porto comercial, com a sua chusma de camionistas e despachantes oficiais, e algumas fábricas importantes, acrescentadas pelo século XX, povoaram o resto do espaço.
Para quem não morava nem ali trabalhava, a zona era de passagem obrigatória para os que regressavam de um passeio familiar domingueiro passado, por exemplo, a ver os hidroaviões da Doca dos Olivais.
Por essa altura, já Guilherme Marçal, Veríssimo Correia e José Pereira, vindos dos distritos de Coimbra e Viseu, tentavam a sorte na capital, trabalhando na restauração de Lisboa – que, na altura, se dividia entre galegos e beirões. Uma experiência que se viria a revelar essencial, mais tarde, na Marítima.

Em 1983, Guilherme Marçal deixa a baixa da cidade, nas Portas de Santo Antão, e ruma a Xabregas: “Quando eu disse que vinha para aqui, disseram-me que eu estava doido, mas resolvi apostar”, conta ao Corvo, com evidente orgulho, o porta-voz dos três sócios.
Depois de grandes obras de renovação que a transformaram num acolhedor restaurante, nascia o espaço que hoje conhecemos: sala ampla, com mesa posta para quase 150 comensais, que funciona como a cantina diária dos despachantes oficiais, um dos restaurantes familiares preferidos pelos lisboetas.

Um pargo legítimo e uma enorme garoupa dão-nos as boas vindas, acompanhadas de postas de bacalhau demolhado com quase dez centímetros de altura à espera de grelha, azeite a ferver e batatas a murro. O bacalhau é o ex-libris da casa, mas a sazonalidade dita também as novidades da ementa: por estes dias, por exemplo, há sável frito.
E, depois, há pratos já difíceis de encontrar e fora de moda, mas capazes de fazer quem gosta deslocar-se de longe: não são muitos os restaurantes que ainda propõem rim grelhado. E o que não há num dia pode haver no seguinte, basta telefonar: “Temos clientes que ligam a pedir um prato e nós fazemos”, conta Veríssimo Correia.
“Com o fim dos despachantes oficiais, perdemos movimento, mas já tínhamos amigos suficientes para manter a casa. Aguentamo-nos com esse público fiel”, orgulha-se José Pereira.

Entretanto, já Lisboa ganhara outra ponte sobre o Tejo e uma exposição internacional que chamou de novo gente para a zona oriental da cidade.
Os três sócios comandam uma equipa de doze pessoas e, embora já sejam pessoas crescidas, aqui ninguém pensa em reforma. Assim, o charme de uma Lisboa de outros tempos vai-se mantendo nas travessas da Marítima que aterram na mesa.
Marítima de Xabregas
Rua Manutenção 40/2
Beato
Telefone: 218 682 235