Regressa às livraria um dos livros mais importantes de Maria Teresa Horta.
Texto : Rui Lagartinho Ilustração: Sofia Morais
Minha Senhora de Mim
Maria Teresa Horta
Edições Dom Quixote
Em 1971, a coragem de duas mulheres, a poeta Maria Teresa Horta e a sua editora Snu Abecassis, que na editora Dom Quixote se propunha dar voz aos novos poetas nos “Cadernos de Poesia”, dava água pela barba ao másculo regime. Nada ficou como dantes, depois da saída do número 18 dos cadernos.
Em “Minha Senhora de mim”, havia um grito livre, “recusando o que é desfeito/no interior do meu peito.” O que se segue é triste e contradiz qualquer ilusão que restasse da denominada primavera marcelista. A PIDE apreende toda a edição do livro em armazém e nas livrarias. Snu Abecassis é ameaçada com o fecho da editora, se voltar a publicar qualquer outro livro de Maria Teresa Horta.
Conta a autora que Snu Abecassis terá perguntado se a proibição era extensível a qualquer outro livro dela e que lhe terá sido dito em tom sarcástico por César Moreira Baptista, à altura subsecretário da Presidência do Conselho, “História da Carochinha, Maria Teresa Horta. Proibido. Editora fechada.”
Para assinalar os seus cinquenta anos, a Dom Quixote faz regressar ao seu catálogo uma obra seminal na literatura erótica feminina de quem, desde aí, tantos espíritos desassossegou e tantos fantasmas agitou, apenas porque, entre muitas outras verdades feitas palavra singular, sinceramente confessa que “desperta a causa/ e desperta a língua/ a procurar o meu prazer/ na ferida”.
Maria Teresa Horta estará presente na Feira do Livro de Lisboa, para uma sessão de autógrafos, na tarde de 7 de Junho.