É invariável. De cada vez que morre uma figura pública, é proposta a atribuição do seu nome a uma rua da cidade de Lisboa, como forma de lhe prestar tributo. Mas, na última reunião pública do executivo, na semana passada, o presidente da câmara disse basta. “Já não há mais ruas em Lisboa. Vamos ter que homenagear as pessoas de outra forma que não seja atribuindo-lhe o nome de uma artéria. Pela simples razão de que já não há mais. Hoje, a cidade chegou aos limites da sua expansão e o número de artérias a criar nos próximos tempos é muito limitado”, afirmou o autarca, na sessão pública da câmara.
António Costa disse mesmo pretender evitar novas situações “embaraçantes”, como aquela porque já passou um dia enquanto autarca. Costa recordou, perante o executivo municipal, quando, num acto público organizado para a atribuição do nome do filólogo Lindley Cintra a uma rua, o actor Luis Miguel Cintra, seu filho, que havia sido convidado para a sessão, criticou abertamente a autarquia. Cintra considerava “insultuoso” o local proposto, uma zona da freguesia de Carnide, já perto da Pontinha.
Num momento em que câmara está ainda a estudar que rua poderá vir a ter o nome de Eusébio – assunto que, por insistência do vereador do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, voltou a ser debatido em sessão de câmara -, já uma nova proposta era avançada para que também Mário Coluna, recentemente falecido, fosse homenageado de igual forma, como defendeu na passada quarta-feira o vereador Fernando Seara, do PSD.
O centrista João Gonçalves Pereira insistiu na necessidade de se encontrar em Lisboa uma rua que, “com dignidade”, possa render tributo a Eusébio, a qual, em seu entender, poderia ser a Avenida Lusíada, por se encontrar nas imediações do estádio do Benfica. Para o vereador centrista, não de devem repetir situações como a da atribuição do nome do escritor Luiz Pacheco a uma artéria pedonal de Chelas, local que nada tem a ver com o escritor nele homenageado. E questionou a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, confrontando-a com declarações que prestara a um canal de televisão. As mesmas, alegou o vereador do CDS-PP, “condicionavam a tomada de posição da Comissão de Toponímia, que ainda não se reuniu, e a própria câmara”, por recusar a possibilidade de alterar o nome da Avenida Lusíada para avenida Eusébio.
Como explicou depois a vereadora, que é por inerência presidente da Comissão de Toponímia, aquele órgão ainda não se reuniu, para discutir esse ou qualquer outro assunto, pelo simples facto de que a comissão ainda nem sequer foi constituída, no actual mandato. Catarina Vaz Pinto é, por enquanto, a única pessoa a poder falar em seu nome.
Mas, quando a comissão estiver constituída, assegurou António Costa, a câmara saberá homenagear Eusébio, ainda que esteja a ser difícil encontrar novas ruas em Lisboa que garantam a dignidade pretendida. “Só de pensar no número de personalidades que ainda estão vivas e que, um dia, deixarão de o estar… Mas Eusébio, está escrito nas estrelas, um dia vai ter o seu nome numa rua” de Lisboa, garantiu.
Texto: Fernanda Ribeiro