Irá novo fast food implicar o corte de cerca de 60 árvores no Estádio Universitário?
ACTUALIDADE
Samuel Alemão
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Plataforma em Defesa das Árvores
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AMBIENTE
Alvalade
11 Novembro, 2016
A construção de um restaurante da cadeia Burguer King junto ao cruzamento das avenidas dos Combatentes e Professor Egas Moniz poderá vir a obrigar ao corte de cerca de seis dezenas de árvores em terrenos do Estádio Universitário de Lisboa. A concretização de tal cenário, que tem sido denunciada nos últimos dias pela Plataforma em Defesa das Árvores e pelo Movimento Fórum Cidadania Lisboa, resultará de um adicional, assinado em junho passado, ao contrato firmado entre ambas as entidades, em Outubro do ano passado. Esse anexo menciona a necessidade de proceder agora ao recuo do novo estabelecimento comercial para o interior do limite do estádio, devido à constatação de que o baldio situado em frente virá agora a ser integrado na rotunda que a Câmara Municipal de Lisboa decidiu entretanto construir no local. Mas a Universidade nega essa informação, que qualifica de “falsa”.
De acordo com o documento assinado a 17 de junho – e disponibilizado ontem no sítio do Fórum Cidadania LX -, a área de implantação do negócio é alterada para passar a incluir a zona dentro do recinto desportivo académico e a empresa detentora da Burguer King fica autorizada a “executar todas as obras que a construção do restaurante requer e que estão definidas nos termos do contrato, bem como o abate e corte de árvores”, que “ficam para o primeiro outorgante”, ou seja, a Universidade de Lisboa. No mesmo ponto, lê-se que à multinacional compete a “demolição do muro existente e construção de novo muro e vedação de suporte na nova delimitação (…), eventual reposicionamento do painel publicitário, reconstrução do caminho pedestre junto ao muro no interior do estádio” e ainda a regularização paisagística. O adicional, assinado pelo reitor António da Cruz Serra e dois administradores da empresa, vem acompanhado de uma planta com a nova área de implantação.
Nos considerandos deste texto, é referido que durante a fase de aprovação do projecto para a construção do restaurante, os serviços do município informaram que o mesmo “pretende construir uma rotunda na confluência na confluência da Avenida dos Combatentes com a Avenida Professor Egas Moniz que conflitua com a área contratualmente prevista para a implantação do restaurante”. Tal obrigará a câmara municipal a expropriar uma parcela de terreno da universidade e, em consequência, fazer com que a implantação do restaurante tenha de “avançar para o interior do Estádio Universitário de Lisboa, com alteração do espaço afeto e construção de novo muro de suporte e vedação”. E será essa entrada em perímetro do estádio a motivar o corte de árvores, de acordo com o contratualizado. O que acabou por desencadear uma interpelação ao reitor por parte da Plataforma em Defesa das Árvores.

Nela, o grupo cívico diz sentir “imensa perplexidade e o maior repúdio” pelo facto de a instituição de ensino “permitir a amputação de um espaço verde numa zona dedicada à natureza e à prática do desporto ao ar livre”. E considera que o projecto “não é de forma nenhum defensável em pleno século XXI, não só pelo abate de arvoredo que implica como pela facilitação junto dos jovens (…) de hábitos alimentares contra-indicados pela generalidade das boas-práticas a nível internacional”. Por isso, perguntam ao reitor se as contrapartidas oferecidas pela Burguer King “são suficientes para compensar a pegada ecológica deixada pelo abate das árvores e pela instalação do restaurante de fast-food?”. Mas as questões não se ficam por aí. A Plataforma questiona também se foram estudadas outras alternativas de localização que não implicassem o abate de arvoredo e se não seria “mais legítimo” esperar pela entrada em vigor do Plano de Urbanização da zona.

Questionada pelo Corvo, a Universidade de Lisboa qualifica a informação sobre o corte de árvores como “falsa”. Em resposta escrita, o assessor de imprensa, António Sobral diz que “a verdadeira notícia – boa para quem ame a natureza e o Estádio Universitário de Lisboa, mas má para quem participe em campanhas negativas contra a Universidade – deveria ser que a Universidade de Lisboa elaborou, em 2016, e executará, nos próximos meses, um projeto de reflorestação do Estádio Universitário, que inclui a plantação de 193 árvores, 830 arbustos e mais de 2.000 herbáceas”. No âmbito desse plano foi realizado um estudo de todas as espécies vegetais do estádio, do qual terá resultado a recomendação para o abate de 61 árvores, “por constituírem um perigo para os utentes”. Destas, 22 terão mesmo de ser cortadas, por apresentarem perigo para a via pública – mas só depois de se recolher parecer positivo do Instituto de Conservação da Natureza.
A assessoria de imprensa do reitor garante que o corte de árvores nada tem que ver com a construção do Burguer King, sendo os processos “autónomos” entre si. “Só com muita criatividade e má fé, se consegue imaginar o abate de 60 árvores para construir o restaurante no referido local. O projeto está pendente de licenciamento pela Câmara Municipal de Lisboa”, diz o mesmo texto enviado ao Corvo, o qual não faz qualquer referência às alterações mencionadas no adicional ao contrato original. A resposta assinala apenas que “a Universidade colocou a concurso público a construção e concessão dum restaurante no parque de estacionamento selvagem, e sem qualquer árvore, existente no cruzamento da Avenida Prof. Egas Moniz com a Avenida dos Combatentes”.