Festival de artes no Lavadouro das Francesinhas leva-nos à Madragoa
Num tempo em que as lavandarias automáticas vão conquistando presença em quase todos os bairros de Lisboa, olha-se para um espaço como o Lavadouro das Francesinhas com curiosidade quase arqueológica. Uma espécie de excrescência romântica de uma outra cidade, em que o tempo corria mais lento. “As pessoas que ali estão são muito simpáticas, mas não conseguem atrair muita gente. Aquilo está um bocado vazio”, admite ao Corvo Leonor Carpinteiro, da organização do Condomínio – Festival de Cultura Local em Espaços Habitacionais, que nesta sétima edição elegeu o equipamento público situado na Madragoa como um dos centros das suas actividades, no caso a 22 de maio (domingo).
Entre as 15h e as 23h desse dia, quem ali for poderá assistir a concertos, workshops, exposições, instalações, performances, cinema, conversas e leituras, numa reapropriação temporária que tem como objectivo dar a conhecer um lugar tão peculiar quão desconhecido de muitos lisboetas. Por regra, o CONDOMÍNIO abre portas para a ocupação passageira de casas e espaços privados, “com o intuito de divulgar o panorama artístico e cultural da cidade de Lisboa”. Mas o convite da Junta de Freguesia da Estrela para a realização desta edição – que, no fim-de-semana passado, também decorreu no bairro de Campo de Ourique – quase trocou as voltas ao conceito deste festival.
“Cada edição do festival tem lugar numa área diferente da cidade. Costumamos realizar as actividades em apartamentos e moradias, mas, desta vez, abrimos uma excepção”, admite Leonor Carpinteiro, que assume a intervenção também como parte de uma estratégia contra o esquecimento e o apagamento da memória colectiva de parte do tecido social da capital. “Em princípio, o destino daquele espaço será o encerramento e a sua passagem a outra actividade”, reconhece a dinamizadora do festival – que, além das habituais actividades culturais e artísticas, dará lugar a criações que tomam como inspiração o equipamento, “contribuindo para a preservação da memória e para uma reinterpretação do espaço do lavadouro”.
Descrito como um “local pessoal, calmo, verde e com história”, o lavadouro, inaugurado em 1876 no terreno do convento que lhe veio a emprestar o nome, tem hoje muito pouca actividade – embora ali funcione uma lavandaria. Além dos funcionários e de uma ou outra lavadeira, quase só recebe a visita dos funcionários do departamento de Higiene Urbana da junta, com o qual partilha o espaço. Uma letargia que o Condomínio se propõe abanar. “Esperamos que a lembrança conduza à reabilitação e impeça a continuação da sua degradação, fugindo aos planos de demolição que há tantos anos se anunciam em conjunto com a ameaça de encerramento”, diz o comunicado da organização.
Programação: condominiofestival.wordpress.com/programa-7a-edicao