Um fracasso. Pouco mais de quatro meses após a inauguração do Chiado Tram Tour, o circuito turístico de eléctrico entre o Largo do Camões e o Príncipe Real foi suspenso, devido à falta de procura. O veículo verde forrado a cortiça deixou de fazer o serviço, esta semana, por decisão da Carris Tour, já que a ligação inaugurada a 28 de Maio se revelava, desde o início, pouco apelativa para potenciais clientes. As carruagens andavam quase sempre vazias. Um desfecho considerado “perfeitamente previsível” pela Plataforma pela Reactivação do Eléctrico 24E, que aproveitou a ocasião para exigir o regresso daquela ligação entre o Cais do Sodré e Campolide.
Com um custo de seis euros por viagem, a qual assegurava um passeio por uma área muito restrita da cidade – essencialmente, um circuito com cinco paragens, no Largo Camões, na Rua da Misericórdia, no Largo de São Roque, junto ao Miradouro de São Pedro de Alcântara e no Príncipe Real -, o Chiado Tram Tour viu a sua viabilidade e interesse serem questionados logo desde o início. A começar pelos activistas da referida plataforma, para quem não fazia sentido estar a criar mais um produto turístico do género, menosprezando a função primordial de transporte público da rede de eléctricos. O facto de a reactivação deste tramo da linha ter implicado a sua reabilitação pela Carris levou a que a Plataforma apelasse à reabertura da ligação do antigo eléctrico 24E – desactivada já desde 1996.
Na cerimónia de inauguração deste serviço turístico – a segunda oferta do género disponibilizada pela Carris Tour, depois da inauguração da Castle Tram Tour, em 2014, com passagem pela Praça da Figueira -, o presidente do conselho de administração da Carris desvalorizou as dúvidas levantadas pelos jornalistas sobre a viabilidade da mesma e as crísticas ao facto de não se ter optado por ressuscitar a ligação do 24E, servindo assim as populações. “Há uma tendência, que não é de agora, de passar os eléctricos todos para o serviço turístico. O turismo baseado nos eléctricos é algo que veio para ficar”, disse Rui Loureiro, acrescentando que “não é mais possível criar mais carreiras que não tenham viabilidade económica”. Uma situação que, afinal, não se verificou neste caso.
No comunicado ontem enviado à comunicação social, a Plataforma pela Reactivação do 24 assegura que tal operação “será sempre lucrativa para a Carris, à semelhança do 28E”. No texto, em que se apela nesse sentido ao Governo, à Carris e à Câmara Municipal de Lisboa, o grupo de pressão diz que a reactivação daquela linha deverá ocorrer “em toda a extensão da infra-estrutura existente, ou seja, do Cais do Sodré a Campolide, com extensão ao Largo do Carmo” e que “deverá sê-lo em regime de transporte público, como qualquer outra linha de eléctrico”, já que, “enquanto meio de transporte público, é necessária sob os pontos de vista ambiental, de mobilidade e de boas-práticas internacionais”.
A Câmara Municipal de Lisboa deverá ser a entidade que melhor acolherá tal apelo, pois a autarquia tem demonstrado simpatia pela ideia de ser proceder ao restabelecimento da antiga ligação do carro eléctrico. A 9 de Junho passado, Manuel Salgado, o vereador com os pelouros do Urbanismo e do Planeamento, disse perante a Assembleia Municipal de Lisboa que a câmara tem estado “a trabalhar para ter o eléctrico como modo de transporte das pessoas na cidade e não como um transporte turístico”. Na altura, poucos dias após a inauguração do Chiado Tram Tour e as declarações feitas pelo presidente da Carris, Salgado lembrou que a CML já estaria a fazer investimentos de vulto na aquisição de equipamentos de via que permitirão a futura circulação dos eléctricos no Cais do Sodré e na Rua de São Roque.
O Corvo tentou obter junto da Carris um comentário a esta decisão de interromper o serviço do Chiado Tram Tour, mas tal não foi possível durante toda a tarde de ontem.
Texto: Samuel Alemão