Almada e Amadora são partida e destino de uma viagem onde Lisboa e o rio Tejo estabelecem a ponte entre as duas cidades vizinhas da capital. Uma oficina de banda desenhada está a fazer o diário dessa travessia urbana, que conta com a participação de muitos jovens desejosos de aprender. O Corvo acompanhou uma das etapas desta jornada desenhada, coordenada pelo ilustrador Nuno Saraiva.
Texto: Rui Lagartinho Fotografias: Mário Rainha Campos e Rui Lagartinho*
Antes de começar a segunda jornada da oficina de banda desenhada “O caderno de viagens entre duas margens”, Nuno Saraiva dá algumas dicas à dezena e meia de participantes. Por exemplo, como desenhar um transeunte que apeteça incluir na paisagem. Incita-os ainda a “legendarem os desenhos, o que valoriza sempre graficamente o trabalho”.
Na tarde de sábado em que O Corvo acompanhou esta oficina – organizada pela Associação Cultural e Artística de uma Sociedade Original (ACASO), pela BD Amadora e pela Casa da Cerca-Centro de Arte Contemporânea Almada -, a viagem começou em Almada e só acabaria em frente da estação do Rossio.
Nuno Saraiva dá indicações aos seus alunos, no Cais do Ginjal, em Almada (Foto: RL*)
A ideia do projecto é chegar à Amadora, no último fim-de-semana de Outubro, coincidindo com a inauguração do mais importante festival de banda desenhada do país, o Amadora BD – que terá a sua 26ª edição entre 23 de Outubro e 8 de Novembro, no Fórum Luís de Camões -, onde o trabalho destas jornadas vai ficar exposto.
A desenhar em plena estação de metropolitano do Cais do Sodré.
Para Nuno Saraiva, experiente ilustrador e professor destas áreas na ARCO, esta é uma experiência inovadora. “Conseguiu-se aqui um espírito de viagem, de um olhar sobre realidades que passam mesmo à nossa frente. Estou surpreendido com o nível dos trabalhos”, diz-nos, enquanto descemos as escadas para o Ginjal, um passeio estreito com Lisboa em fundo e que nos leva até Cacilhas. Pelo meio do percurso, Nuno lança os desafios para o próximo desenho: “Cinco minutos para desenhar esta grua. Usem cor, desta vez”.
Luís Pedro tem 16 anos. Estuda na Escola Secundária António Arroio e viu nesta experiência uma tentativa de desenhar um Story Board, algo útil para quem pensa seguir cinema. Rui e Ricardo Soares são pai e filho. Percebe-se que Rui está orgulhoso por ter passado a paixão que tem pela banda desenhada ao filho de 12 anos. Para eles “poderem expor na Amadora os seus trabalhos, a algumas paredes de distância de mestres que admiram, é um sonho”, observa. Para além da exposição os trabalhos serão também publicados em fanzine.
Um participante a trabalhar no seu caderno de esboços, com Lisboa no horizonte (Foto: RL*)
Cacilhas deixa, entretanto, de ser miragem. Os cacilheiros já ali estão, à frente dos olhos, a pedirem para ser desenhados, antes do grupo embarcar ele próprio na carreira que os levará à outra margem. Hoje, a paragem final é a fachada da estação do Rossio. Nas duas últimas jornadas, farão a viagem até à Amadora, de comboio e de metro, até ao local onde se realiza o Festival BD.
Informações em casadacerca@cma.m-almada.pt