De onde vêm os cravos do 25 de Abril?
40 anos do 25 de Abril
Durante toda esta semana, o cravo vermelho é a flor mais procurada pelos portugueses. O Corvo foi tentar perceber de onde chegam os cravos que as comemorações consomem.
À saída da Ponte Vasco da Gama, no sentido sul, um cartaz vende a cidade do Montijo como “Capital da flor”. A ponte veio dar alento à actividade de produtores e distribuidores que são procurados directamente por alguns retalhistas e mesmo por floristas, preferindo estas quintas ao MARL (Mercado Abastecedor da Região de Lisboa) para se abastecerem de flores.
A meio da manhã de 24 de abril, restam por colocar no mercado apenas alguns molhos de cravos vermelhos. “O resto já foi tudo”, explica Jony Wilson, um importador de flores espanholas – fonte de abastecimento que dá garantias de não faltarem cravos na lapela dos portugueses.
Por aqui, venderam-se 140 mil cravos vermelhos, só nesta semana. Já numa semana normal, as vendas rondam os 4 a 5 mil e não exclusivamente de uma só cor.
“É um negócio sazonal”, conta-nos Sérgio, o gerente da ZT Flores, um dos grandes armazéns de flores de Lisboa, que aqui se vem abastecer. Por estes dias, já vendeu 40 mil cravos vermelhos, dez vezes mais que numa semana normal. Por alguns dias, os cravos superam as rosas, a grande especialidade deste distribuidor, que com um irmão gere o negócio do pai, o famoso Zé de Tomar.
“Esta semana compensa, mas, durante o resto do ano, a procura baixa muito. O consumidor prefere as rosas, que se tornaram, com os gerbérias, as campeãs de venda de um mercado onde os pequenos produtores estão cada vez mais estrangulados pelas margens de comercialização”, queixa-se Sérgio.
Mas as dificuldades surgem também, acrescenta Fábio, produtor da Flor F, “pelos comerciantes que exorbitam os preços.” De facto, há uma lógica capitalista que paira sobre o símbolo do 25 de Abril. Um cravo que sai do Montijo a 4 cêntimos pode, facilmente, hoje e amanhã ser vendido no Rossio a um euro.
Mesmo assim, o cravo resiste: é uma planta que se renova todo o ano, ao longo da bacia do Mediterrâneo. E é tão importante na sua cultura, como a famosa dieta desta região. Atestam-no as braçadas que se encontram nas mãos dos deuses e de ninfas saltitantes e floridas na história da arte clássica – como nas espingardas da revolução portuguesa.
“É a flor associada ao PCP. Para além da semana do 25 de Abril, vendem-se muitos cravos, quando há, por exemplo, um funeral de um dirigente importante do Partido Comunista, ou uma grande festa ou congresso.” diz Sérgio. Não deixa de ser irónico que sejam os comunistas os grandes reguladores do mercado