As altas temperaturas estão naturalmente a provocar alterações significativas na qualidade do ar, com potenciais efeitos sobre a saúde humana. Os distritos de Lisboa e Setúbal eram, este sábado, apontados pelo Sistema de Avisos Meteorológicos do Instituto do Mar da Atmosfera como “em situação meteorológica de risco extrema” .
Tudo estaria normal, não fosse a Base de Dados Online sobre a Qualidade do Ar da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), estar a funcionar condicionada devido a cortes orçamentais, determinados pelo Ministério do Agricultura e do Ambiente, o que por sua vez provoca atrasos nos avisos sobre valores das emissões poluentes – nomeadamente sobre os níveis de ozono (O3) e as partículas na atmosfera (PM10).
As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) são as entidades responsáveis por fornecer as informações, mas “as crescentes dificuldades orçamentais estão a colocar problemas de funcionamento do sistema ”, revelou ao Corvo uma fonte da APA.
A associação ambientalista Quercus alertava esta semana que avisos sobre as emissões poluentes “não estão a chegar às populações, o que se sucede pelo facto de não estarem a ser efetuados (foi o que aconteceu durante o último fim-de-semana). Devido ao mau funcionamento da cadeia de informação, também a comunicação social poderá não transmitir em tempo adequado os avisos emitidos pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (neste caso de Lisboa e Vale do Tejo – CCDR-LVT) ”.
Esta “falha” poderá revelar-se grave, pois a legislação nacional e comunitária determina que sejam emitidos avisos no caso da ultrapassagem dos valores de concentração de ozono, o que se verificou no último fim de semana.
As condições atmosféricas estão igualmente reunidas para este fim de semana, nomeadamente, nos distritos de Lisboa e Setúbal, onde as temperaturas devem alcançar valores acima dos 40 graus.
Estando a qualidade do ar diretamente relacionada com problemas de saúde, como as vias respiratórias, verificou-se este sábado, dia 6, ao meio-dia, na região de Lisboa, um nível entre o médio e o fraco, isto é, com concentrações de ozono e PM10 elevadas, mas ainda toleráveis.
As recomendações nestas situações são, para além da ingestão de água, evitar atividades físicas intensas ao ar livre. Os doentes do foro respiratório e cardiovascular devem “respeitar escrupulosamente” as indicações médicas. O fumo do tabaco e a exposição a produtos irritantes, contendo solventes, devem igualmente ser evitados.
O ozono é um poluente secundário e a sua formação está associada a forte radiação solar e a temperaturas elevadas. Os seus efeitos podem ser a inflamação das vias respiratórias, o aumento da tosse e a possibilidade de ataques de asma.
Em Portugal as concentrações de ozono são maiores durante a Primavera e Verão, enquanto as partículas têm o seu máximo.
Texto: Mário de Carvalho Fotografia: Samuel Alemão