Setembro é mês de Feira da Luz. É assim há mais de cinco séculos, quando começaram as primeiras romarias ao santuário do Largo da Luz. Até dia 27, há animação garantida.
Texto e Fotografias: Rui Lagartinho
Isabel ainda não percebeu muito bem onde aterrou. Vende alheiras de Mirandela, bolas de carne, chouriços de vinho, nacos de presunto, garrafões de azeite. Tudo transmontano. “O meu filho inscreveu-me e eu aqui estou. Com muito gosto”, diz-nos, enquanto nos embrulha uma bola calcada, que se distingue das outras por ser achatada e não ter carne. O ar quente do dia secou-a um pouco, mas sabe a azeite e a produto genuíno.
É o princípio da noite e circula-se à vontade pela Feira da Luz. Se há estreantes como a dona Isabel, a maioria dos comerciantes conhece o certame como se aqui tivesse nascido. No caso de Teresa, que vende cestos de vime algarvios e móveis populares alentejanos, não estamos a usar uma figura de estilo: “A minha mãe disse-me que, no ano que estava grávida, mesmo assim fez feira”. Assim por alto, calculamos estar a falar de cinquenta anos de Feira. O cavalheirismo não nos permite ser mais precisos.
“Desde que, no ano passado, passámos a gerir directamente a Feira, tentamos que esta seja um cruzamento entre os que já cá estão há muito e os que querem começar a vir. Sobretudo, encorajamos os produtos regionais de qualidade”, diz-nos Fábio Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Carnide.
Este ano, estão inscritos mais de 160 comerciantes. A ampará-los e atrair gente está um vasto programa cultural que, para além dos concertos ao vivo diários, incluem pequenas bandas rock e música popular. Quim Barreiros, Os Diabo na Cruz, Romana e Lúcia Moniz são alguns dos cabeças de cartaz. A Junta de Freguesia de Carnide aposta na divulgação do trabalho de associações com intervenção social, desportiva e cultural no território.
“Haverá, todos os dias, actividades com as crianças, um posto de dádiva de sangue, uma aldeia do desporto entre muitas outras iniciativas. Estamos num território onde se misturam classes sociais muito diversas, temos condomínios e o Bairro Padre Cruz, o maior bairro social da Península Ibérica. Há dias, cruzei-me com uma senhora de Palmela que disse que marca as férias sempre na altura da Feira. E fico muito orgulhoso com estes forasteiros e lisboetas que acarinham a Feira. Mas a nossa ideia é ter aqui um espaço de inclusão para toda a freguesia de Carnide”, conclui Fábio Sousa.
Paramos agora junto ao assador dos couratos e das febras. Na estreia na Feira da Luz, o repórter do Corvo fez-se acompanhar de um jovem casal suíço aterrado em Lisboa nesse mesmo dia e de uma transmontana convicta. Para todos, a ida à Feira da Luz era uma estreia. Telma, de serviço aos grelhados, garante-nos que o negócio “ainda não aqueceu”. Decidimo-nos a entrar no restaurante, que, apesar dos lamentos, está quase cheio.
Despachados os frangos assados, o último passeio já se faz com as alamedas mais compostas. Muitos optaram por um café, uma fartura e uma espreitadela ao ambiente. Os carrocéis infantis – há tão poucos na cidade – estão cheios. Para o repórter lisboeta e para a transmontana, a noite foi uma revisitação das festas de Verão na aldeia que, afinal, também podem acontecer em Lisboa. Para os suíços, a noite foi original, colorida, kitsch, com artefactos que desconheciam existir e com a sangria a ajudar a entrar no espírito da festa.
A Feira da Luz anima o jardim de Carnide até dia 27 de Setembro.
Todas as informações em www.jf-carnide.pt