Os dedos das mãos não chegam para contar os anos em que a cena se repete. Nem juntando-lhes os dedos dos pés. Em Alcântara, em concreto na parte mais larga da rua Prior do Crato, os buracos no pavimento são já uma marca integrante da paisagem. Enormes, todos os anos lá surgem para serem depois enchidos de massa betuminosa que rapidamente se esvai nas primeiras águas. Reaparecem pouco depois, para serem mais adiante recheados de matéria que pouco durará. Vários são suficientemente fundos para causar danos na suspensão dos carros. Como se concentram quase sempre na faixa ascendente, obrigam quem conduza, vindo de Alcântara a caminho de Santos, a sair da sua mão, cruzar o risco contínuo e entrar na faixa “bus” descendente. A manutenção de carris do eléctrico – há muito desactivado – facilita a abertura dos buracos. Quem passe ali com alguma frequência sabe bem qual é o problema. É a Câmara Municipal de Lisboa contentar-se com meros arranjos para encher o olho e adiar uma reconstrução do pavimento. Lisboa nunca esteve tão estragada em termos de piso. Nalguns casos, a razões são pontuais, resultado de chuvas fortes ou rebentamentos de condutas subterrâneas. Mas, nesta zona de Alcântara, os buracos ameaçam torna-se tradição.
Texto e fotografia: Francisco Neves