Arte urbana quer “abrir” túnel de Alcântara à cidade
A passagem pedonal subterrânea de Alcântara vai beneficiar de uma acção de reabilitação promovida pela Associação Portuguesa de Arte Urbana (Apaurb). A iniciativa, com início previsto para 7 de Agosto, aposta no voluntariado de cidadãos e entidades para a limpeza e pintura desta infra-estrutura de um dos eixos rodo-ferroviários de Lisboa.
“A ideia é combater o fogo com o fogo. A passagem está cheia de tags e todo o tipo de graffiti e vamos convidar artistas para pintarem o espaço”, conta Octávio Pinho, presidente da Apaurb. A arte urbana pode contribuir para reabilitar espaços degradados e vandalizados, como é o caso do túnel que liga à estação de Alcântara-Mar e à zona ribeirinha das Docas . Numa primeira fase, todas as paredes do túnel serão pintadas de azul claro. A opção levará a que, no tecto baixo da passagem subterrânea, seja criado um efeito de céu aberto.
A segunda fase deverá arrancar no último dia de Agosto e prolongar-se-á até 20 de Setembro. “Vamos pedir a artistas para reproduzirem imagens de Lisboa”, explica o dirigente da Apaurb. Em toda a extensão do túnel, de forma a criar um efeito 3D dos miradouros da cidade, serão pintados diversos monumentos. Do lado ribeirinho, junto à saída para as docas de Santo Amaro, esclarece uma nota da associação, prevê-se reproduzir de um lado a ponte 25 de Abril e a marina, do outro lado o cais de carga, o porto de Lisboa e contentores. A Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e eléctricos também poderão ser vislumbrados, assim como o Tejo, o Castelo de São Jorge, a rotunda do Marques de Pombal, o Panteão e o elevador de Santa Justa, no prolongamento das “vistas” nas correspondentes paredes do túnel.
A Apaurb conta com a colaboração de diversas entidades para a realização do projecto. A Associação de Comerciantes das Docas de Santo Amaro vai fornecer refeições para os artistas durante as intervenções. A Câmara Municipal de Lisboa prometeu colaborar na instalação de andaimes, sinalização e no policiamento. Octávio Pinho admite a O Corvo que, da autarquia, tiveram “zero em apoios”, embora reconheça que a câmara “está um bocado de mãos atadas”, pelas dificuldades administrativas de uma contribuição mais avultada para o projecto.
A associação ainda não teve resposta aos pedidos de autorização da Rede Ferroviária Nacional (Refer), mas “vai avançar” com a iniciativa. A Fundação Museu Oriente vai contribuir para o projecto através de contactos com outras instituições, para que também ajudem, e organiza com a Apaurb debates relacionados com a arte e a reabilitação urbana. Os cidadãos que se pretendam voluntariar para as acções também se podem inscrever na recepção do museu.
Uma marca de tintas (Sika), especializada em reabilitação urbana, já confirmou a oferta de cerca de 730 litros de tinta para a pintura de paredes e do tecto. Os voluntários receberão ainda “t-shirts” e chapéus e a empresa disponibilizou-se para fornecer a tinta para o pavimento, no caso de avançar a ideia de reproduzir em pintura uma calçada à portuguesa. Octávio Pinho apela à adesão de voluntários à iniciativa e ao apoio de empresas e outras entidades com materiais, como instrumentos de pintura e de limpeza. Para a associação, “a reabilitação dos centros urbanos é um vector imprescindível para o desenvolvimento sustentável das cidades e para a melhoria das condições de vida das populações e do país”.