No Campo das Cebolas, em frente à Casa dos Bicos, vai nascer mais um parque de estacionamento subterrâneo, obra ontem aprovada na generalidade pela Assembleia Municipal de Lisboa. A estrutura deverá colmatar as carências de parqueamento na zona Sul-Nascente da Baixa Pombalina, em especial Alfama, permitindo, ao mesmo tempo, reordenar o espaço à superfície e acabar com o estacionamento caótico que ali se pratica.
A proposta, apresentada pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, substitui uma anterior versão, que previa a construção de um silo e que não foi aceite. Trata-se agora de um único piso subterrâneo, com um total de 230 lugares, 160 dos quais destinados a residentes e comerciantes da zona (110 referentes a assinaturas de 24 horas e 50 a estacionamentos nocturnos). Os preços para estes utentes deverão andar perto dos praticados no parque da Calçada do Combro – cerca de 80 euros ao mês para as assinaturas de estacionamento por 24 horas, por exemplo.
A obra tem em conta que o terrapleno junto à estação fluvial de Sul e Sueste, agora usado como estacionamento nocturno, dará lugar a um interface de autocarros para servir as carreiras dos barcos do Tejo e também o Metropolitano. Os arranjos à superfície incluem a construção de uma creche e uma ludoteca, bem como a abertura ao público da Doca da Marinha.
A proposta trazida pelo vereador foi aprovada por maioria com condicionantes – que terão de ser vertidas no seu texto definitivo – , várias delas bem acolhidas por Salgado. O vereador aceitou os reparos do deputado do Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) para a necessidade de garantir dez por cento dos lugares a veículos não poluentes. E prometeu mesmo que todos os parques municipais de estacionamento irão contemplar lugares para veículos eléctricos ou a hidrogénio, bem como o seu carregamento a cargo da EMEL. O vereador sossegou também alguns deputados municipais, dizendo-lhes que não haverá qualquer compensação financeira da Câmara à EMEL, a quem competirá a obra.
Nas suas respostas, o vereador foi omisso quanto aos avisos expressos pelo PSD e Verdes (PEV), segundo os quais uma obra subterrânea em tal sítio comporta riscos. O deputado social-democrata João Magalhães Pereira, através de um texto lido por uma colega de partido, considerou que a obra “não corresponde aos interesses da cidade” e que haverá riscos de liquefação sísmica dos terrenos e uma perigosidade acrescida em caso de ocorrência de um maremoto.
Sobreda Antunes (PEV) lembrou que ali, no que foi o antigo Cais de Santarém, subsiste enterrado um pequeno braço de rio e questionou: “Não será um risco mexer em zona tão sensível?”. O deputado perguntou onde estão os estudos hidro-geológicos que afastem o risco de um acidente. Salgado apenas reconheceu que estão por fazer.
Texto: Francisco Neves