No número 11 da Avenida Luís Bivar abriu, há dois meses, uma livraria única no seu género: vende apenas livros de bolso em segunda mão. Na Bookshop Bivar, os livros são todos em inglês e, nas estantes, estão divididos por secções, ficção geral, biografias, romances históricos, romances fantásticos e biografias. Num montinho à parte, há volumes que abordam temas científicos ou de ambiente.
Os livros apresentam-se quase todos em bom estado de conservação, parecendo muitos deles novos, e custam cinco euros, preço que desce para um ou dois euros no caso daqueles que aparentam ter sido mais manuseados. Mas a escolha não é muita, admite a própria dona da loja, a finlandesa Leena Marjola. “Espero vir a ter mais livros, mas só abri a loja há dois meses. Os livros são todos importados de Inglaterra e o transporte não é barato. Para já, compro-os em bloco, daí o preço. Mas sei que ainda falta de muita coisa”, afirma.
Leena Marjola vive há dois anos em Lisboa e explica porque decidiu fixar-se aqui: “O meu marido, Peter, é inglês e vinha sempre passar as férias no Algarve com os pais, nos anos 60 e 70. Apaixonou-se pelo país de tal maneira que, na escola, era conhecido como ‘Pedro, o inglês/português’. Foi ele que me trouxe cá pela primeira vez e também me apaixonei”.
Contabilista em Helsínquia, tinha um sonho antigo, abrir uma livraria. “Na Finlândia, isso não era possível, há livros por todos os lados, nem quando são dados as pessoas os aceitam, as bibliotecas funcionam muito bem e toda a gente vai lá”.
Alegre e expressiva, com uns olhos azuis muito vivos, Leena afirma que Lisboa é o sítio certo para realizar o seu sonho. “Gosto da maneira de ser das pessoas, que são muito simpáticas mas reservadas e sabem guardar as distâncias, não são como os italianos que se atiram para cima de ti aos abraços”, diz, a rir, acompanhando a explicação com gestos. “Gosto de haver cafés em todas as esquinas, de as pessoas falarem comigo, mesmo sem me conhecerem, a cidade é muito variada, anda-se um quilómetro e tudo muda. Nestes dois anos, já morei em três sítios que são muito diferentes, primeiro em Santa Apolónia, depois em Arroios e agora arranjei casa aqui mesmo, ao lado da loja”.
Durante a conversa com o Corvo, um cliente entrou na livraria. Falava inglês e procurava livros em francês, e Leena indicou-lhe o Instituto Francês, na mesma rua. “Não ando à procura de turistas”, afirma.
Para Leena, até mesmo os defeitos do país parecem qualidades. “Aqui não há muitas regras, as coisas são desiguais, imperfeitas, e eu estava farta de perfeição. Num prédio aqui ao lado, caíu uma varanda, depois de uma tempestade, isso na Finlândia seria impossível!”, diz, a rir.
O único problema de Leena Marjola, no que respeita à sua integração em Lisboa, tem a ver com a língua, já que percebe mal o português e que fala um inglês deficiente. “Não consigo compreender as notícias e isso é muito chato. Percebo que as pessoas aqui detestam os políticos, e acho que têm razão, pagam imensos impostos e não recebem quase nada em troca. Mas gostava de saber mais do que se passa à minha volta ”.
Nas paredes da livraria, estão expostos os quadros muito coloridos de uma outra finlandesa radicada em Portugal, Soili, amiga de Leena. Eram sete horas e a dona da Bookshop Bivar queria preparar-se para a festa de inauguração da exposição de uma outra artista sua amiga, esta portuguesa, Teresa Milheiro, no Museu da Marioneta.
“Em Londres, não há tempo para tomar um café. Aqui tenho tempo para tudo. Adoro Lisboa”, repetiu, na despedida.
Texto: Isabel Braga
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