A exposição que mostra Santo António contado em Banda Desenhada
REPORTAGEM
Rui Lagartinho
Texto
Paula Ferreira
Fotografia
Líbia Florentino
Vídeo. Imagens
Álvaro Filho
Edição
CULTURA
Santa Maria Maior
15 Maio, 2017
Uma nova mostra no núcleo de Santo António do Museu de Lisboa, situado junto à Sé, olha para o modo como, ao longo das últimas décadas, os ilustradores portugueses se inspiraram no santo popular de Lisboa. Juntos, os trabalhos escolhidos para a exposição “Santo António na Banda Desenhada” acabam por propor, de forma acidental, um percurso pela história desta forma de expressão artística em Portugal.
Entramos pela primeira vez no “Museu de Santo António”, a partir de 2014 um dos núcleos do Museu de Lisboa, tomando e ampliando o local onde, desde 1962, se encontrava o Museu Antoniano, e temos a sensação de estar a visitar um museu muito lá de casa, tanta é a familiaridade com que nos movemos através da vida e das lendas à volta do santo mais popular de Lisboa.
A primeira sala do museu serve para isso mesmo: rever a matéria dada e aprender um pouco mais. Pode-se seguir o fio da história e percorrer a errância do franciscano ou arrumar ideias feitas, espreitando tudo o que é lenda ou milagre. Quase um Santo António a la carte, onde cada um faz o seu percurso. Há tempo para admirar, por exemplo, as pagelas – pequenos cartões de oração – pertencentes a Fernando Pessoa, ele que nasceu também a 13 de Junho, mas também para estranharmos o facto de, na República Dominicana, o Santo ser representado louro, um facto normal para quem olha para o santo de um ponto de vista latino-americano. Ou ainda relembrar as tão populares notas de vinte escudos e a marca de um pão de ló de Figueiró dos Vinhos que leva o nome do popular santo.
No centro do espaço expositivo está agora “Santo António na Banda Desenhada”. “Aproveitámos a ocasião da apresentação das pranchas originais do livro de ‘Santo António’, de José Garcês, que fazem agora parte integrante do acervo do Museu de Lisboa, para desafiar a Bedeteca de Lisboa a nos mostrar como vários ilustradores olharam e se inspiraram neste ícone da cidade”, explica a O Corvo o coordenador do museu, Pedro Teotónio Pereira.

O percurso pensado por Marcos Ferrajota, responsável da Bedeteca, começa logo por nos mostrar, com uma página do jornal satírico “António e Maria”, como Bordalo Pinheiro olhou para o Santo António, incapaz ele mesmo de pôr ordem no Partido Regenerador. E o tom satírico continua nas páginas dos “Ecos da Semana”, nos anos trinta do século XX, onde Carlos Botelho dá conta da incapacidade do Santo António de acudir a tantas solicitações.

Mais arrumadas e aprumadas são as ilustrações na “Lusitas”, a publicação da Mocidade Portuguesa Feminina ou no livro escolar “Lições de História Pátria”, de 1967. O Estado Novo ajustava o Santo António à sua narrativa. Uma capa da popular revista para jovens “Cavaleiro Andante” coloca o santo ao centro da página, sendo objecto de devoção e fervor até por super-heróis como Tintin ou Tarzan.
Já no século XXI, destaca-se o trabalho de Nuno Saraiva. Regressa o humor pícaro e a sátira aliada à tradição da devoção popular a Santo António, seja nos casamentos ou na tradição do muito celebrado tostãozinho, talismã da prosperidade.
A exposição apresenta-se aos lisboetas na época certa, Maio e Junho são os meses em que Santo António assume natural relevância e a igreja que leva o seu nome, o largo com o sua estátua-trono e o próprio museu de Santo António são mais visitados.
